Nossa proposta para o Anexo do Museu Casa Lacerda tem como objetivo expandir as possibilidades de uso do museu pela comunidade, criando espaços que intensifiquem encontros e trocas. O projeto propõe um novo elemento discreto e respeitoso com seu entorno, aberto ao público, onde os espaços livres entre as construções ganham sentido e potência de uso. Mais do que um edifício, este projeto desenha o espaço livre: um belvedere a partir do qual é possível ver e compreender o contexto em que se insere. Este anexo não pretende ser o protagonista do conjunto mas um novo elemento que reverbera e amplia as qualidades e potencialidades presentes no entorno somando-se à rede de equipamentos da cidade.

O ponto de partida para o projeto foi a relação que o novo edifício terá com a Casa Lacerda, com seus espaços livres e seu entorno. A nova peça de arquitetura busca incorporar elementos tradicionais da arquitetura luso-brasileira local, reinterpretando-os e trazendo-os para a contemporaneidade.

Deste modo, o primeiro gesto do projeto foi posicionar grande parte do programa no pavimento inferior, caracterizando um volume semi-enterrado, de forma a manter desobstruída a vista a partir da Casa Lacerda. Este pavimento, 90 cm abaixo do nível da Travessa Francisco Brito de Lacerda, se volta para um pátio interno que organiza e ilumina o conjunto articulado com o espaço livre no andar superior por meio de uma transposição descoberta, gerando um percurso agradável que intensifica a conexão entre níveis. Sobre o bloco semi-enterrado foi posicionado um segundo volume, de estrutura leve e vedações transparentes, que abriga os programas mais públicos do anexo reforçando e estimulando a conexão com o pátio da Casa Lacerda. Este volume foi instalado em uma lateral do conjunto, liberando ao máximo a vista para os morros e estendendo a tijoleira existente até o belvedere do anexo.

A estrutura do novo edifício é composta por duas partes: um embasamento construído em lajes e pilares de concreto armado moldado in loco, com vãos econômicos de 7x5m, e um pavilhão em estrutura metálica, apoiado sobre este primeiro pavimento mais sólido. A partir de uma estrutura regular e partições internas leves, a proposta cria uma matriz aberta, mutável, que possibilita futuras transformações, como aconteceu ao longo do tempo na Casa Lacerda.

Para o tratamento das áreas livres foram respeitados todos os elementos que deveriam ser preservados, como os pisos de tijolos e de pedras, a drenagem e a maioria das árvores existentes. Como marca de uma época, o paisagismo sugerido assume um desenho orgânico, que conecta as diferentes pré-existências através de materiais naturais.Todas as novas árvores e vegetação de forração foram escolhidas em função de sua adaptação ao clima local, sua baixa manutenção e alto impacto visual, criando um jardim natural com plantas nativas, que contêm um componente didático ao apresentar para o visitante um olhar sobre as vegetações autóctones da região, estendendo a função de aprendizagem do museu para as áreas livres.

Em suma, o projeto busca retomar a vocação da casa enquanto espaço de reunião da população local, propondo espaços de encontro e reunião de diversas escalas. O projeto foi pensado de maneira a trabalhar em harmonia com as pré-existências, propondo um edifício contemporâneo que funciona não apenas como um museu, mas também como uma plataforma para visualizar o entorno tombado, de forma a somar e potencializar o conjunto.